quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Turma do Beco do Barato - Antologia 70 (2004)













Antologia reúne os músicos que viveram os loucos anos 70 em Pernambuco sob influência do lema sexo, drogas e rock’n’roll, de Woodstock e dos Beatles
MARCOS TOLEDO (JC Online)Em 2003, o disco que é considerado o marco da música pop pernambucana – Satwa (1973) – completou três décadas de existência e a data passou
em branco. Ou quase. Há mais de um ano estava sendo produzido A Turma do Beco do Barato (Projeto Antologia 70), álbum que reúne os autores de Satwa e todos os adeptos da geração pós-Woodstock no Estado, e que só agora sai do forno. O primeiro evento de lançamento – uma audição na loja Passa Disco (Shopping Parnamirim) – ocorre amanhã, a partir das 19h.

O nome do novo álbum é inspirado num espaço paralelo à Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife, onde os bichos-grilo da cidade se reuniam para trocar idéias literárias, poéticas e, sobretudo, musicais, no anos 70. Comumente, para as gerações mais novas, é comparado ao que significou o bar Soparia (Pina) na década de 90.

No Beco do Barato freqüentavam Lailson & Lula Cortes, os autores de Satwa (que tem ainda participação do guitarrista Robertinho do Recife), Lailson que, por sua vez, cantava na banda Phetus, com Zé da Flauta e Paulo Rafael, estes dois que integravam a Ave Sangria, ao lado de Marco Polo (voz), Ivinho (guitarra), Almir de Oliveira (violão), Israel Semente (bateria) e Dicinho (baixo), único grupo a registrar seu trabalho por uma grande gravadora (a Continental), em disco que teve ainda a participação do percussionista Agrício Noya.

Apesar de não haver caracterizado um movimento, a geração 70 formava uma cadeia representativa que conseguiu dar o pontapé inicial da cena pop do Recife. Porém, tudo sempre de uma forma muito difícil, como lembra hoje Lula Côrtes. Por isso, hoje há tão poucos registros sonoros, imagens, quase nenhuma.

A Turma do Beco do Barato, projeto idealizado por Humberto Felipe, fã da Ave Sangria, acabou sendo a oportunidade de vários artistas registrarem algumas de suas composições pela primeira vez, após cerca de 30 anos. É o caso da Phetus, que finalmente gravou duas de suas canções até hoje inéditas em disco. E mesmo da Ave, que acabou em 1975 – quando já contava com repertório para um segundo LP – e contribui no CD com nada menos do que nove composições, apenas duas delas regravações. Os outros dois temas são de autoria de Lula Côrtes.

“Toda essa história ficou meio esquecida”, diz Humberto, explicando o porquê da realização do CD. “Tanto de gente de hoje quanto de quem viveu a época e não estava antenado.” Admirador da Ave Sangria, conta que, no início, pensou no trabalho como uma homenagem ao grupo com a participação de convidados. “Ao invés de ficar limitado a um nome, resolvi ampliar, não usar o nome Ave Sangria, mas pegar o mais representativo e fazer a Antologia 70”, resume.

(© JC Online)
Reencontro histórico de uma geração
O resultado de A Turma do Beco do Barato (Antologia 70), ao que tudo indica, agradou a todos os envolvidos, que destacam a emoção de poder reviver um pouco daquilo que vivenciaram com tamanha intensidade três décadas atrás. “Me senti criança na hora da gravação. Perdemos o juízo”, diz Zé da Flauta que, além de reviver seus momentos tocando com Phetus, Ave Sangria e Lula Côrtes, assina a direção musical do trabalho.

Entre os momentos mais emocionantes, o flautista destaca a forma como o guitarrista Ivinho – que viveu ao longo desses anos sérios problemas pessoais – recordava as músicas feitas há mais de 30 anos. “Ele lembrava nos mínimos detalhes dos arranjos da Ave Sangria e da minha banda, a Phetus. Não só lembrava como tocava”, afirma. “Também foi muito bom reviver as conversas durante as gravações.” Da Phetus foram gravadas as inéditas Vacas roxas e Anjos de bronze, ambas com a voz de Lailson e a guitarra de Paulo Rafael, além de convidados.

Lula Côrtes ressalta a importância de as músicas haverem sido compostas sob “as nuvens de chumbo da repressão”, como define a época da ditadura. “Achei superlegal, uma iniciativa 10. É necessária e foi feita na hora certa.” Lula optou por regravar As estradas (presente no CD que gravou com a Má Companhia, cujos alguns integrantes participam nestas releituras) e Dos inimigos, do LP O Gosto Novo da Vida (1981).

Até o reservado Marco Polo que, depois da experiência à frente da Ave Sangria, investiu em sua carreira como jornalista e escritor, considera o trabalho muito gratificante. “Foi legal, estimulante. Apesar de, em mim, ter deixado a nítida sensação de que não sou saudosista. Meu negócio é o presente”, afirma.

Marco, que assina seis canções e canta com Humberto Felipe o tema Boi ruache, do falecido Israel Semente, revela que procurou manter a sonoridade dos anos 70. “Guitarras, guitarras...”, define. As outras duas músicas da Ave são interpretadas pelo autor, Almir de Oliveira.
LAILSON
Cartunista, nasceu no Recife, a 26/12/1952. Começou a trabalhar profissionalmente em 1975, 
publicando seus desenhos no Jornal da Cidade e, em seguida, no Jornal da Semana, ambos da capital pernambucana.


Em 1977, passou a ocupar o cargo de chargista do Diario de Pernambuco, depois de ter atuado como diretor de arte em algumas agências de publicidade.

Publicou desenhos no semanário carioca PASQUIM, revista MAD (edição brasileira), Visão, KYX93 e outros. É autor da tira em quadrinhos Pindorama, publicada em alguns jornais brasileiros, e fundou, juntamente com Paulo Santos, Ral e Bione, a página humorística "O Papa-Figo", lançada no recife em 1975.

Publicou vários livros, entre os quais "O Que Vier Eu Traço" (1981), "Esta Vida é um Circo" (1989) e "Humor Diário" (1997), além de ter editado o tablóide Folhetim Humorial e a revista Zona Tropical.

Ganhou vários prêmios, entre os quais o primeiro lugar no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, SP, 1977, e no Salão Internacional de Montreal-Canadá, 1985.

Também é músico e, em 1973, gravou com Lula Côrtes o LP independente "Lula e Lailson". Depois, formou a banda "Phetus", com Paulo Rafael e Zé da Flauta.
MARCO POLO






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Jornalista, músico e poeta, nasceu no Recife. Integrou o conjunto musical "Ave Sangria". Editor do caderno de Cultura do Jornal do Commercio, Recife, autor do livro "Vôo Subterrâneo" (poesia).










LULA CORTES
Cantor e compositor, na década de 1970 foi um dos primeiros a fundir ritmos regionais 
nordestinos com o rock and roll, juntamente com Zé Ramalho e outros artistas.

Obra: Em 1972, lança, com Laílson, o LP Satwa (Rozemblit, Recife); em dezembro de 1974, termina a gravação do álbum duplo "Paêbiru", com Zé Ramalho, mas o álbum não é lançado porque a gravadora Rozemblit, foi atingida por uma grande enchente; LP O Gosto Novo da Vida (Ariola); LP Rosa de Sangue (Rozemblit; não chegou ao mercado por conta de briga jurídica com a gravadora); LP A Mística do Dinheiro (gravado pela Rozemblit mas nunca lançado); LP O Pirata (gravado em São Paulo e também nunca lançado); LP Nordeste, Repente e Canção (Discos Marcus Pereira); CD Lula Cortes & Má Companhia (1997).

É, também, pintor e lançou livros de poesia, entre os quais "Bom Era Meu Irmão, Ele Morreu, Eu Não".



A turma do beco do barato - Antologia dos anos 70 
01 - as estradas [lula côrtes]
02 - vacas roxas [lailson]
03 - vento vem [israel semente]
canta: marco polo e humberto felipe
04 - marginal [marco polo]
05 - dois navegante [almir de oliveira]
06 - o pirata [marco polo]
07 - dos inimigos [lula côrtes]
08 - anjos de bronze [lailson]
09 - fora da paisagem [almir de oliveira]
10 - janeiro em caruaru/noturno nº0/mina do mar [marco polo]

todas as músicas são interpretadas por seus autores, exceto a faixa 3.

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Um comentário:

  1. A Turma do Beco do Barato não foi idealizado por Humberto Felipe. Humberto Felipe desejava regravar as músicas do Ave Sangria com sua banda que tinha a participação de Almir Oliveira e Dircinho, que vivenciaram a verdadeira Ave. A ideia de fazer uma ANTOLOGIA, convidando vários compositores surgiu depois de diversas conversas com Zé da Flauta, Marco, Lailson, o saudoso amigão Lula Cortes, que achavam que o disco devia ser um marco daquela época e daí o convite aqueles mitos a participar... essa conversa foi conduzida pelos produtores Flávio Domingues e Antonio Carlos Muriçoca que convenceram Humberto Felipe a desistir da ideia inicial e criar esse disco que é antológico. Flávio, já vinha de diversas produções e com muita experiência conduziu a produção com maestria e convenceu Zé da Flauta a receber em casa Ivinho o gênio das guitarras que lembrou de todos os arranjos originais e propiciou esse momento mágico a todos que participaram das gravações.

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